O assumir do grito - um passo no desconhecido... Ana Fonseca
Serena na sua ânsia de liberdade, vê caírem todas as grades, todos os muros que lhe camuflaram o caminho de enganos. Ainda não o vê pois este está envolto pela bruma do desconhecido mas pouco importa. Sabe que existe e seja qual for será melhor que o deixar-se presa do conhecido. O hábito quantas vezes é uma fera amansada que nos dilacera a carne, que nos esventra da vontade e ela deu o seu grito e assume a sua ânsia de liberdade.
Já nada a consegue calar, já não é Prometeu Agrilhoado, agora é uma questão de escrever um epílogo, de tecer com carinho o final. O seu coração é enorme, são tantos os que lá cabem e engrandece serenamente à medida que desvenda o trilho com confiança, com ternura.
Medos, é óbvio que os tem. E ainda bem pois são eles que lhe dão a visibilidade do que há a ultrapassar, que são a mão que desvanece a bruma que lhe tem entorpecido o caminhar. Basta para tal tomar consciência deles mesmos, fazer do que nos incomoda o ombro amigo que nos desvenda o caminho, o farol que nos mostra o que tanto temos escondido e nos tolhe no continuar a atrair do que nos magoa, nos fere e afunda num labirinto tantas vezes esquecido de tão conhecido. Sabe que tem asas e que não são de cera, que não há nenhum sol que as possa queimar, que não é em vão o seu vôo, o seu caminhar de pés no chão e coração no luar.
Num assomo de consciência, respira profundamente e um sorriso terno e completo abrange-lhe o rosto e o corpo até sorrir com o próprio fígado. Como se sente leve! Sorri ao universo e o universo cabe todo dentro desse sorriso, simples, infinito…
Deixa-se ficar imersa nessa imensidão e sente-se a perder contornos, a diminuir de tamanho… encontra-se suspensa num fio de seda invisível, tão ténue quanto resistente e baloiça, deixa-se embalar… e é nesse embalo que vibra o ser infinito que em seu coração mora… é tudo tão belo, tão perfeito nas suas múltiplas imperfeições, tudo tão estrategicamente colocado nos sítios certos que até um estilhaço é uma flor.
Sente-se uma perfeita alquimista suspensa desse trapézio sem rede em que se entrega de coração ao vento, com olhar de mulher e coração de menina… nada sabe do amanhã mas sabe que ama o agora e só isso lhe basta para se ser serena, sem demora.
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