Quando o amor é silêncio... Francisco Valverde Arsénio
Continuas silenciosa
como a noite
com os sentidos transparentes,
e aí te manténs fechada
no habitáculo de cada poro,
na demora
do vapor dos minutos.
Soletro-te este amor errante,
íntimo de mim
na pulsação do teu ventre.
Há lírios bravos
na expressão do teu rosto,
raízes enfeitando-te as pálpebras.
Daqui não consigo tocar
no teu corpo de papel,
sobram-me as mãos,
os gestos,
mas falta-me a geometria dos teus dedos.
Continuas silenciosa,
o sol equilibra-se no equinócio
e a minha escrita perde a marca de água.
A noite permanece crua
tal como as águas despidas de luz,
um silvo ladeia o espaço
e mergulha vertiginosamente
no desassossego de mim.
Faltam-me verbos
para conjugar o teu nome.
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