A Janela... Ana Fonseca da Luz




A minha casa tem uma única janela.

Não preciso de mais…

Dela consigo ver o nascer e o pôr-do-sol.

Lá longe, um campo de trigo enfeitado de papoilas, anunciando mais uma Primavera, apesar de tudo…

Uma ou duas laranjeiras em flor, andorinhas apressadas a fazerem os ninhos, dois gatos vadios que todos os dias miam à minha janela, anunciando-me que têm fome e que só podem contar comigo e um pequeno riacho, que corre manso, saltando as pedras com uma ligeireza quase felina, ladeado de silvas, que dão as mais doces amoras que alguma vez provei.

Perante esta grandiosidade, onde reina a mais pura das simplicidades, reparo o quanto sou pequena e não consigo deixar de me alegrar com o facto de realmente ter consciência de que nada sou.

Resolvi dar um nome à minha janela.

Chamei-lhe ”a janela da saudade” e sempre que a tristeza me escorre pelos olhos, quando me digo que sou infeliz, sem qualquer razão palpável, corro à minha janela”à janela da saudade”, encho a minha alma com toda aquela beleza simples que os meus olhos enxergam e preencho o coração com todas as boas lembranças de que é feita a minha vida.

A minha casa tem uma única janela.

Não preciso de mais…

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