O Passo Seguinte... Francisco Valverde Arsénio



E assim, vindo do nada e sem ele esperar, ela apareceu. Uma mensagem implícita algures dizia apenas «quero ver-te», e depois o silêncio das horas. E apareceu tal como ele a imaginava, a sua silhueta reflectida pelo néon do reclame duma pastelaria dava-lhe um ar de anjo, parecia pairar no ar… e aquele brilho nos olhos…

Por muito estranho que seja, ela incutia nele uma sensação estranha, era diferente de tudo, bonita, insinuante, inteligente… ele adorava-a sem saber bem porquê, ou então fingia não saber. Todas as vezes que a sonhou, perdeu-se com ela num caminho sem rumo e sem compromissos. E olhou novamente para aqueles olhos que o confundiam. Se pudesse ficar ali a observá-la, ver as suas curvas bem delineadas, os ombros, os seios, as pernas… todo o corpo. Olhava-a e perdia-se naqueles olhos da cor das searas maduras do mês de Agosto. Ela sorria e acariciava-lhe as mãos.

São dois conhecidos que se desconhecem, com vidas próprias mas uma paixão comum, entre ambos há amizade, amizade pura apesar dos abraços serem apertados e demorados, propositadamente demorados. Ela olha-o, sorri e diz-lhe «és tão atraente…». O curioso é que das poucas vezes que estiveram juntos ela não disse a frase «és tão atraente…». Ele suspirou e sentiu que o ar lhe faltava nos pulmões e tudo à volta deixou de fazer sentido. Ela sempre recusou ir mais longe do que as suas palavras permitiam. Contudo, uma simples mensagem implícita algures despoletou o momento desejado e ei-la ali, diante dele, tinha chegado à conclusão que precisava doutro abraço. Os lábios dela percorreram-lhe o rosto enquanto nos seus olhos brilhavam gotículas cristalinas. Este dia havia de chegar mais cedo ou mais tarde, ele sabia, apesar das suas palavras não ultrapassarem a pura amizade, até porque esta os haveria de acompanhar para sempre independentemente dos seus destinos. E os lábios dela entreabriram-se e pousaram nos seus deixando que os sabores das suas bocas se misturassem. Tê-la assim, nos braços, era um sonho do qual não queria acordar e deixou que as mãos se autonomizassem e percorressem aquele corpo saído da tela dum pintor. O cheiro que se desprendia do seu corpo atordoava-o e fazia aumentar o fervor que em si habitava. Ela segurou-lhe o pescoço numa mistura de luxúria e carinho, no peito o coração escaldava e saltava como um cavalo selvagem, e afogaram-se noutro beijo. Eram dois seres perdidos no tempo, perdidos no calor que emanava dos seus corpos e as mãos fecharam-se nas mãos. Ela abriu os olhos e olhou-o a centímetros de si, o mundo deixou de girar, ficou suspenso entre ambos, apenas os corações se ouviam.

Uma mensagem implícita algures e o momento aconteceu.

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