O postal... Ana Fonseca da Luz




Só deixamos de errar no dia em que pararmos de tentar… Li esta frase num velho postal que comprei numa daquelas feiras de antiguidades que mais parecem uma venda de garagem, em que tentamos vender os trastes que vamos acumulando com o decorrer dos anos. Mas, apesar de tudo, a verdade é que todos os meses percorro religiosamente essa feira que há todos os primeiros domingos de cada mês, pertinho da minha terra. Encontro sempre qualquer coisa para comprar. Ora uma colher de prata amarelada pelo tempo e pela falta de solarine, ora uma roca antiga que, depois, não sei onde pôr. Foi por isso mesmo que, este mês, me impus uma condição: não comprar nada que ocupasse muito espaço.
Enquanto percorria com os olhos e, algumas vezes, com a ponta dos dedos todos aqueles objectos sem utilidade nenhuma, mas cheios de magia, deixei cair os olhos sobre um postal que particularmente me chamou a atenção. Era um postal do princípio do século vinte, onde se via um casal virado de costas, aparentando mais uma briga de amor. Virei-o e li-o. Numa caligrafia desenhada, que só poderia mesmo encontrar-se num postal com mais de cem anos, rezava assim:
Amada Amélia
Esperei por si toda a tarde, sua marota! Por que faltou ao nosso encontro? Por acaso duvida do tão grande amor que lhe tenho? Ou não conseguiu iludir sua mãe e fugir até ao jardim? Não me diga que ainda me faz pagar pelo meu erro?! Só deixamos de errar, no dia em que pararmos de tentar…
Do sempre seu para todo o sempre
João

P.S. Sábado, à mesma hora, vou esperar por si, no sítio do costume.

Impossível resistir a tanta ternura! Tenho a certeza de que a Amélia devia ter olhos negros e doces e que, no sábado seguinte, não faltou ao encontro. Qual teria sido o erro do João? Talvez tenha apenas tentado roubar-lhe um beijo.
A verdade é que, durante todo o dia, não pensei em mais nada. Esta frase de cem anos, roubada a um casal de namorados, fez-me ver as coisas de forma diferente. Vale realmente a pena tentar, tentar sempre, até encontrar o caminho que nos leva até onde queremos. Não nos podemos ficar pelos sonhos (e quem vos diz isto é uma mulher que nunca pára de sonhar) temos de os tornar realidade. Temos de cumprir a nossa vida, não o destino porque o nosso destino, somos nós que o fazemos.
Só deixamos de errar, no dia em que paramos de tentar…

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