Querer...uma força de dentro! Francisco Valverde Arsénio


Quero fechar os olhos ao chamamento dos sentidos, às imagens que se desenham e me empurram para o vazio, às sombras que me afastam da verdade. Quero resfriar as mãos que procuram outros caminhos, outros lugares, mas sentir o fruto apetecido/proibido.
Quero…quero…quero. Querer é um imperativo da ilusão, da vontade, é desapertar o laço das regras, é ser o que somos e não o que nos impõem, é sermos por inteiro em cada centímetro quadrado da pele do nosso corpo. Querer é sentir a textura da voz que chama pelo nosso nome, é desenhar as sombras que refrescam os olhos, é descobrir com as mãos as formas guardadas doutro corpo. Querer é saber guardar numa gaveta as ponderações e incertezas, é avançar por caminhos desconhecidos sem receio das muralhas, é aceitar o que somos e o que projectamos vir a ser, é ter coragem e a ousadia de nos sentirmos ilusão e concreto, é sermos a linha invisível que divide o não do sim, o nada do tudo, a mim de ti.
Querer é saber aceitar a razão, o instante da mudança, é poder dizer «estou aqui» sem ter de olhar para trás, é dizer «amo-te» e deixar que os lábios cantem o amor que sinto por ti sem que me preocupe em repetir-me, é sonhar que não há jogos de faz-de-conta, que os fantasmas não existem e que as dúvidas são resolvidas a dois. Querer é saber o tempo das opções.
Neste exacto momento, por entre o vazio da razão, questiono-me se terei imaginado em ti o porto de abrigo chamado amor. Não sei porque as palavras se desenham em incertezas eternas ou porque fiz de ti a ordem das coisas, mas urge-me saber-te minha. Não quero criar ilusões sobre algo que não tenho, mas… quero alimentar o meu corpo com o teu, lavrar a tua pele como se lavram as planícies, criar muros intransponíveis a ventos alheios, mergulhar nos teus olhos que convidam os meus e partir naquela viagem desprovidos de mapa… tu és a minha morada.
A história não vacila, palmilharei inexoravelmente as pedras do caminho e jamais me deixarei embalar por equívocos. A ti, pinto-te de cor azul como se fosses um anjo escondido dos raios do sol, um tempo escoado sem marcas de passagem, um presente embrulhado na mais fina prata.
Querer é dizeres «amo-te» quando te passeias pelo céu ou me encontras em todos os rostos que se perdem nas ruas, é libertares os sonhos que te aprisionam a alma e denunciam o calor que sentes ao soletrar o meu nome. Querer é redesenhar-te como se ainda estivesses aqui.

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