A essência - no solfejo da pele... Ana Fonseca



Ela divaga, deambula pelos acordes do tempo, inalterável em si. Escolhe sentires, situações e camuflada num corpo que lhe dá alento se perpétua omnipresente no vácuo do momento…
Como a descobrir? Como retirar as cinzas, a fuligem, a poeira e ser capaz de a ver?
Há tanto para descobrir num ser que se quer completo na sua incompletude.
É tão fácil perdermo-nos nas tramas da vida, encetarmos nos labirintos caminhos percorridos a preceito com a candeia nas mãos às avessas do propósito que nos anima.
Como discernir o caminho?!
Na entrega sem medos ou preconceitos, sem guias ou mirantes, sem clamor, sem dor… num estado anestesiado de ser…
Quero-me assim… na ausência de mim… pois só aí, nesse éter em que me edifico poderei volátil perceber o magnetismo que nos polariza sem qualquer razão e aí, sim, aí, na perfeita posse dos dons que me abandonam, que me deixam náufraga deste sentir, te poderei, numa réstia da luz em mim, responder…
Porque permaneces em mim quando me quero ausente de ti? Porque nos somos inseparáveis? Porque me adultera o espírito a razão, porque me tolhes o coração que se anseia livre, tranquilo, a pairar em águas celestiais, etéreo?
Nada sabes.
Vives num limbo edificado a preceito cujo maestro é o coração. Um maestro que tem tanto de louco quanto de genial, um maestro que te deixa presa ao teu lençol à procura das letras que se fazem pano em teus olhos. Quantas lágrimas te abrasam a pele, te sulcam os contornos na ânsia de um afago, te desbravam os sentires à procura de um qualquer oásis? Quantos sorrisos te iluminam as noites prontos a acariciar-te nas sombras dos teus movimentos? Quantas vezes já te contemplaste e nada viste? Quantas vezes mergulhaste sem saber o que te ergueria por fim?
Nada sabes de nós e tudo sabes de mim.
Tu que me urges, me comandas, me incitas, me prendes e libertas num solfejo, me agastas e elevas num relampejo do olhar, o que tens para me dizer?
Nos ecos da lua que te sorri, a resposta te urge, se faz presença na pele…
O silêncio é o nada que é tudo.
Pára. Escuta no chilrear dos pássaros, na pétala a desabrochar, na gota de orvalho que se quer fresca lágrima de vida ao alvorecer, no sorriso das constelações que perfazem o teu nome ou na figura, que para tua surpresa, se recorta no firmamento e te contempla … deixando-me-te em extático momento, surpresa.
Serena-te. Respira.
Voa para lá do branco, para lá do firmamento, para lá das cores, voa e encontra-me-te.
Tece-nos no solfejo da pele a omnipresença do ser…
Ama-me-te porque eu já te Amo e aceito-te no tear de mim, qual barquinho de papel acariciado pelas vagas que me preenchem os contornos inapercebidos de mim.

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