Na eternidade do sentimentos,,, Ana Fonseca



Já não corre pelos campos, desloca-se ternamente pelos caules. Já não grita, saboreia calmamente as palavras antes de as proferir. Já não quer tudo, aceita simplesmente o que o desenrolar vagaroso do tempo lhe oferece fugaz. Já não deseja, saboreia.
O Amor é um cálice a ser sorvido lentamente no desenrolar da eternidade, bebê-lo de um golo só é arruinar-lhe o aroma, é tirar-lhe o corpo e ela aprendeu a ser escanção dos sentimentos.
Agora, recosta-se na paisagem, embalada no baloiçar da lua e o som da madeira a acariciar o soalho são ecos de correrias e brincadeiras sem fim, são pétalas que se desprendem a borboletar das memórias que lhe acariciam o rosto, que deixaram os seus promontórios, sentires de uma Esperança que sempre lhe inundou o olhar.
Sorri, terna e vagarosamente e o mundo pára nesse sorriso. Deambula atenta pelos contornos dos que lhe habitam o caminho. Observa-os na posição em que se quedaram quando magnânima parou o inexorável tique taque que consome as ausências.
Como são belas as expressões humanas!
Como é belo um simples pestanejar de criança, como é belo um entreabrir de lábios, um grito a ser proferido e que calou o vácuo, um gesto que iluminou todas as palavras, um passo que ficou despretenciosamente perdido no ar, uma corrida que se susteve, um apressar que forçosamente sossegou, uma agressão interceptada, um afago que se eternizou só porque o tempo parou, um celebrar do amor numa fusão de seres… como é belo o estar se o Homem o souber ver, se continuar a sonhar, se aceitar simplesmente Ser!
Sorri e tudo volta a girar.
Soube-lhe bem esse tempo em que pôde simplesmente ser espectadora de um palco onde todos são actores, onde todos são expoentes vivos de Vida!
Sentada, recosta-se na cadeira que aconchega a curva do seu olhar, que aconchega a eternidade dos sentimentos que a preenchem, que a eternizam em almejada sabedoria… um muito seu Shangri-lá!

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