No silêncio...a gratidão de estar - Ana Fonseca

Retiro-me das palavras, da semântica, da sintaxe, do sentido e da coesão… retiro-me.

Hoje, vou viajar na minha janela. Vou contemplar o sol, abraçar a paisagem – é tão fácil abraçá-la, é só mesmo espreguiçarmo-nos e ela cabe toda lá dentro, bem dentro desse arco de amor que se espelha no ar…

Hoje, sorrio ao vento, aos relevos que contemplo, ao frio que me faz aconchegar cá dentro…

Hoje, não resisto, descalço-me e vou correr sob a relva, sentir o espigar cristalizado de geada, sentir o calor que emana da terra…

Hoje caminho e sei voar.

No alto pairam livres fragmentos de mim, rodopiam no ar, escrevem retalhos de uma vida sem fim, deixam subliminares mensagens no sorriso das aves, no cantar do pó que navega sem parar, no despontar das rosas que esquecem o frio e fazem-se botão de uma alma sem par…

Hoje, hoje mergulho em mim sem sequer sair do meu estar, basta olhar para ti, meu doce mundo e esqueço-me de tudo só para me ser em ti…

Hoje, fiz-me paisagem e sorri…

… e só agora percebo que, mais uma vez, tive nas palavras e no texto, na página e no aparo, o trampolim e a corda bamba deste meu ser sem rede, deste meu te Ser, deste meu Amar, sem filtros, na transparência do olhar feito lar, feito estar, feito paisagem que desbravo no preencher o nada de tudo, num aconchegante e terno escutar de todo o silêncio que se faz mestre do ar…

… e sinto-me grata… Obrigada!

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