Sorrir... Joaquim Pessoa



De vez em quando e apenas. A longínqua e doce
primavera virá florescer mais perto, num bosque de san-
gue onde vagueia ainda uma horda de visigodos a em-
bebedar-se todos os dias nesse mesmo sangue.
Ah, mas não faz mal, como diria a legenda do mapa azul
das terríveis vinganças. Vingar-nos-emos todos deste
lapso de história em que estamos para nascer completa-
mente roxos com o cordão umbilical a apertar-nos o pes-
coço mais e mais, já sem doer o que antes foi dor de par-
to e de partida.
Apertemo-nos pois, todos os mais fracos, para que cada
forte possa ficar mais à vontade. E se alguém disser que o
nosso lugar não é aqui, já sabes, nada de quezílias ou de
maus modos. Sorrir. Sorrir de vez em quando e apenas.
in PORTUGUÊS SUAVE, Moraes Editores; OBRA POÉTICA,
vol. 02, Litexa Editora.

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