GOSTOS... São Reis










Gosto de parar e sentar num canto
e esperar que as coisas façam sentido
sobretudo aquelas que não entendo

Gosto de ouvir o som do silêncio
que fala comigo e de sentir os vãos
escavados por dentro de mim

Gostos de recomeços feitos do nada
em que nada fique no lugar
e que me obrige a recomeçar de coisa nenhuma

Gosto da amizade das palavras
que me entendem
e que namoram a ponta dos meus dedos

Gosto da alvura de uma folha em branco
ávida de que façam amor com ela
que a desenhem e a revirem
que a façam ter cor e luz
desejos inconfessáveis
vontades submersas

Gosto de madrugadas virgens
e sóis incontidos de esperança
cálidos e mornos como convém
que beijem a pele e afaguem sem sufocar

Gosto de me sentir pequena
para me agigantar depois
e descobrir com um sorriso
que pequena, na verdade nunca fui

Gosto de carinho e ternura
e dispenso a amargura
que teima em bailar-me nos olhos

Gosto de espaço para crescer
mas gosto do desafio de ter de o desbravar

No fundo gosto deste meu ar pacato
de quem pouco se interessa
mas com um canto de vitória ensurdecedor
que me vem da alma

Gosto de baralhar as peças de um tabuleiro de xadrez
em que o peão sou eu e a rainha também

Gosto de acordar o tempo e fazê-lo dançar
nas horas da minha felicidade

E gosto sobretudo de saber que eu querendo
não há desafio que não supere...

São Reis
29Mar2012

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