Memória/Saudade... Agostinho Borges de Carvalho











Mamã Gervásia,de cor morena
veio de África com as mãos vazias,
com muitas agruras e experiências,
e um naco de amor,
pintalgado por um sorriso macilento
por entre alguns dentes e um sorriso nos
lábios...Não a move o dinheiro....
Ela é a memória de uma idade àurea,
em que os habitantes da Terra
do Sonho e da prosperidade,
davam largas às diversões
coloniais....
E o trabalho escravizava....
E lguns enriqueciam...
Tempos magoados e
mal-amados
em que os sorrisos eram
sofrimento e mágoa
dum existir ,
sorrateiro,
marginalizado e
abespinhado ,
pelo sistema....Veio ver o
filho que fugira de Angola.
para não ter fome e
por cá ficara.....
Tem história e
esta ruptura,
com usura,
criou-he uma estranha
vida.....
pois ela foi tirada à natureza,
não ouve s pássaros a
cantar
e não vê as morens a
amar,
s leôes a rugirem à noite
e as cotovias a chilrearem....
Estranha felicidade ,
que perdeu mas
nela cresceu
a fala do coração
no amor ao filho....
Mas em troca do vazio de
relações na cidade,
da perda de mitos,
da memória do seu torrão
natal que se vai apagando....
no corpo de Mamã Gervásia
esprlha-se o mapa dos sonhos
que o tempo engendrou....
e destilou na sua linguagem
mel com
fel...
E aqui a sua pele murcha com
pingos de orvalho e ela cheira
a luar,
a mar.....
e seu coração cede
à inquietação,
lembrando,
imaginando ,
os caminhos sinuosos
e medrosos
de África....
Ser feliz para ela é
relativizar as mágoas e
e encurtar-se
a distância e
a itinerância
com suaves afagos no cabelo
dos netos,
com afects
sem preponderância..
Amar é ter-te aqui comigo,
suave tempo de mim em ti,
memória de
gestos fragmentados e
salpicados de
coragem,
vento frio
e aragem.....
Amar é..
ter-te mamã Gervásia....

Agostinho Borges De Carvalho

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