MORDEDURAS E DIABRURAS... São Reis










Morde-me a vontade de saborear o pecado
morde-me a vontade de ceder à tentação
Acende-se-me a diabrura de ser a criatura
mais malévola desta vida

E porque não?
Já que nada ganho em ser boazinha
seja então a diabinha..a melhor que conseguir ser

Puxa-me a vontade de correr descalça
a direito, sem desvios
como um rio que antes de nascer
já sabe que irá morrer
a caminho de um mesmo mar

Arde-me no peito esta vontade
de ser veleiro em mar aberto
de dar o corpo ao vento
e aguardar a tempestade
enfunar a alma
e aguardar o que tiver de vir
largar os cabelos ao vento
virar-me por dentro
e ser de mim meu próprio leme

Fica-me a vontade de ver a poeira
formando-se na estrada a cada corrida minha
e a outras mais que vierem
aonde não me dou por vencida

Fica-me no corpo um canto de vitória
antes mesmo de o ser
e um canto de esperança
grávida de mim

E na estrada morrem as palavras
todas aquelas que não disse
mas imaginei
e no pó dela ficam os rastos dos meus pés
que trôpegos ou não
calcorrearam o caminho

E as horas...essas vão morrendo por dentro
de um pôr de sol meio adormecido

E as mordeduras
e as diabruras
vão sendo esquecidas no véu do tempo
que o próprio tempo se encarrega de cobrir

Só o meu interior fica igual
aderente e visceral
queimando tudo que se mostra supérfluo
inodoro e sem sabor

Habito no lado interior de um sonho
porque a vida é pequena demais para mim
e nas mãos corre-me um frenesim
e no corpo apenas uma vontade imensa
de me querer, me amar e me ser...

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