Ó Mãe... Joaquim Pessoa








Ó mãe, regressa a mim.
Embala-me no tempo em que os
teus lábios rebentavam de ternura.
Ó mãe, ó minha mãe, ó rio de água pura,
correndo pelas veias. Pelo vento.
Ó mãe, que és mãe de Deus, que és mãe de mim
e mãe de Antero e de Camões, e mãe de quem lhe
faltam as palavras, como se faltasse o ar.
E são assim uma espécie de filhos de ninguém.
Abre o teu ventre, mãe. Acorda. Vem parir-me.
E vem sofrer a minha dor uma vez mais.
Morrer de amor por mim. Vem impedir-me o medo.
Ensinar-me a amar a luz dos animais.
Ó mãe, ó minha mãe.
Ó pátria. Ó minha pena.
Que me pariste, assim, temperamental.
Mãe de Ulisses, de Guevara e mãe de Helena.
E mãe da minha dor universal.

Joaquim Pessoa
in 'Ano Comum'

Um comentário:

  1. Amigo Poeta Joaquim Pessoa, Amei este belo poema, deixou-me emocionada e triste, existe tanta beleza nele ..." Ó mãe, regressa a mim.
    Embala-me no tempo em que os
    teus lábios rebentavam de ternura.
    Ó mãe, ó minha mãe, ó rio de água pura,
    correndo pelas veias. Pelo vento.
    Ó mãe, que és mãe de Deus, que és mãe de mim
    e mãe de Antero e de Camões, e mãe de quem lhe
    faltam as palavras, como se faltasse o ar"....

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