Perfeito... Ana Fonseca da Luz






Perfeito é o manto que te envolve, silencioso e doce.
Perfeito é o teu tom, que se esvai quando fechas os olhos, como se morresses por mim…
Perfeito é o gesto da tua mão, quando afaga e sossega a minha inquietude.
Perfeito é o beijo que te rasga e me engasga e a boca molhada, cansada…
Perfeito é o nó no meu peito, desfeito…
Perfeito é o bater manso e assustado do coração apertado.
Perfeito é o nó das nossas mãos, quando o nada te arranca de ti e me devolve e envolve na perfeição do imperfeito, que se ajusta na perfeição que és tu.
Perfeita é a face rosada, iluminada, tão bela.
Perfeita é a dança dos corpos dormentes, envolventes.
Perfeita é a sombra dos teus lábios colados nos meus, entreabertos, inteiros…
Perfeita é a hora do encontro, nas sombras desfeitas dos laços apertados.
Perfeita é esta dor que me abrasa e estraçalha e te deixa cansada, suada.
Perfeita é a lua nos teus cabelos e a estrela no teu olhar…
Perfeita é a eternidade para sempre nossa, no gosto tão doce que te pinga de mel a voz.
E quando nada é perfeito, surges tu e envolves-me nesse abraço, lasso, vago e nosso.
E porque nada é perfeito, eu choro no teu regaço um rio salgado que te limpa a alma e te fere os sentidos.
Perfeito é o meu gesto no teu gesto e a tua alma entrelaçada na minha.
Perfeito?
Nada seria perfeito, não fosse o facto de existires…
Perfeita?
Nenhuma coisa seria perfeita, não fosse o facto de não passares de uma miragem que se esfuma no silêncio da tua boca na minha boca.
Perfeito…
Perfeito é o que te digo sem nada te dizer,
Perfeito é este silêncio que o olhar nos impõe.
Perfeito é amar-te assim, desta maneira acutilante, manchada do desespero de me quereres tanto.
Perfeito é este poema que te escrevo, que te tatuo na alma, para que me tragas sempre na tua pele, na tua carne.
Perfeito é este querer-te, sabendo à partida que o teu querer é, também ele, eterno.
E tudo será perfeito, se um dia me deixares morrer nos teus braços e morreres também com a dor da minha ausência.
Perfeito é este tango que dançamos, este envolver de sentidos que morre na praia.
Perfeito é amar-te…

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