QUE DIZER-TE...? São Reis










Que dizer-te quando todas as rosas
têm o teu perfume guardado
e respirar-te é quase um castigo
a que me obrigo como vestir-me e comer?

Que dizer-te meu amor
quando as horas morrem grávidas
esperando que tu chegues
e as sílabas se avolumam
em todos os versos ainda por fazer-te?

Que dizer-te meu amor se és vício
e sangue e alma de poeta
cravado na minha pele
e sem ti não passo
e sem ti não sobrevivo?

Que dizer-te meu amor
quando todas as palavras
depositadas no caderno chamam
o teu nome?

Que dizer-te se não posso ter-te
nem tão pouco te inventar
não te posso segurar nos braços
ansioso de te prender
nem sequer te amar
nem em ti me perder?

Que dizer-te quando as horas
choram pelos cantos das paredes
todos os minutos em que não estás
e sonhar-te é a única coisa
que ainda realmente me é permitido?

Que dizer-te quando o sol
dá lugar à lua
e as estrelas têm todas o brilho dos teus olhos
e esquecer-te é apenas uma ilusão de óptica
a que o meu olhar não se habitua?

Que dizer-te quando no fundo
e no final das contas
habitas cada pedaço de mim
sem o saberes
e sem eu o saber?

Que dizer-te que não sejam
palavras do mais puro amor por ti?

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