Tudo o que não sou... Francisco Valverde Arsénio










Não sou de lado nenhum,
muito menos do mar.

Não sou do vento nem das primaveras,
não sou dos cheiros das noites
nem da terra molhada,
nem das lágrimas,
nem dos sorrisos,
nem dos rios,
nem das fontes,
nem dos pássaros que vagueiam
livres por cima dos telhados.

Não sou dos navios
que se perdem no horizonte
nem das mãos vazias de dedos,
não sou do som das ondas
nem das escarpas batidas pelas marés.

Não sou da tua pele
nem tu da minha,
não sou dos teus sonhos
nem o teu álibi,
não sou a sombra que inventas
nem o orgasmo que finges.

Não sou o teu prazer
quando me falta prazer,
nem o capítulo primeiro do teu livro de poemas.

Sou aquilo que não vês
mas insistes em querer ver,
sou o teu desassossego
a sombra que paira no teu tecto.

Sou o que quero ser.
Sou o nada que tu julgas tudo.

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