Entre o óbvio e o desconhecido... Francisco Valverde ARsénio




Tem pela frente duas estradas tão iguais mas tão diferentes. Uma tem o asfalto luzidio, bermas marcadas a branco e candeeiros que projectam uma luz amarela que define os contornos. Em cada um dos lados há uma estreita ciclo-via de cor bordô. É uma estrada segura, com muitos sinais de trânsito e as bermas bem definidas. Tem algumas árvores e, mais ou menos a uma distância igual, há bancos de pedra. Ela conhece bem esta estrada, não poucas vezes se passeia por ela e se senta nos bancos de pedra, coloca a cabeça por entre as mãos e verte lágrimas de angústia da cor do negro asfalto. E assim percorre quilómetros e quilómetros sem nunca sentir que esta estrada é sua ou porque os seus passos a levam nessa direcção.
A outra estrada é-lhe completamente desconhecida. Da encruzilhada vê a recta que se prolonga para lá do olhar. Está circundada por árvores enormes e frondosas que encobrem quase por completo a luz do sol. Nas bermas proliferavam plantas silvestres. Esta estrada não é tão bem cuidada, o asfalto tem remendos e aparentemente não existem bancos de pedra para descansar.
Parada na encruzilhada, olhava para ambas as estradas, indecisa. Uma, conhecia-a bem, sabia-lhe os perigos, a calmaria ou o movimento dos automóveis; sabia da frescura da copa das árvores e do som do ribeiro que passava por baixo da pequena ponte. Contudo, havia o apelo do desconhecido mesmo ali ao lado. Mas que encontrará? Que haverá por baixo daqueles ramos que quase não deixam ver o céu? Haverá bancos de pedra onde descansar e libertar o coração? Ficou olhando, indecisa, sabe que se escolher uma perde de imediato a outra. Deu um passo em frente e logo regressou ao ponto inicial. Mas tem de tomar uma opção. Se ficar, não saberá se perdeu ou não o tempo, a oportunidade, e as pernas poderão não a trazer de novo àquela encruzilhada.
A primeira estrada chamava-a, como em tantas outras vezes, e ela obedecia, mas de súbito percebeu ter chegado o momento de deixar de fazer aquilo que os outros queriam que fizesse. Sempre se havia pautado pela obediência, pelo que os outros achavam certo esquecendo-se de si. Olhou novamente a estrada familiar e sorriu-lhe, olhou a outra e deu um passo em frente, depois outro e mais outro… e a sua silhueta foi desaparecendo à medida que se perdia no infinito horizonte.
Chegara a hora de ser egoísta, de ser ela, de mudar de caminho. Nada tinha a perder e no seu subconsciente sabia que a estrada ora tomada teria algures um recanto onde pudesse descansar da caminhada e verter as suas lágrimas, mas agora… de felicidade.

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