Inacabado poema... Ana Fonseca


Percorre exausta a aridez branca de uma folha de papel.
Uma imensa e pérfida noite tolhe-lhe o canto, seca-lhe a garganta e quando quase sucumbe ao gume das linhas, vê atónita desprenderem-se do firmamento estrelas-letras a acariciarem-lhe a voz, a nascerem em cascata ininterrupta a saciar-lhe a sede.
Mergulha nua ao fundo de si mesma à procura da réstia de luz que a mantém viva e exangue percorre a eternidade que a separa do néctar de vida em escassos segundos.
Os seus lábios desabrocham em novas páginas cheias de vida assim que as letras lhe saciam a sede de vida, de versos, de rimas e o seu sangue é um sempre fluído poema a bombear Amor aos olhos de quem o ler.
Já nada é.
Agora é o verso que a medita. Inacabado poema que lhe habita o ventre de mulher e é parto diário numa alma que inspira.

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