TRAVESSIA... Francisco Valverde Arsénio










Deambulo
em passos perdidos
com os dentes da noite
cravados na pele nua.

Atravesso o deserto
transbordante de tempestades
onde a chuva faz ninho.
Ardem
as últimas folhas das árvores,
as searas tombam
e as bocas silenciam-se
nos lábios ressequidos de sede.

Estugo o passo
enquanto a cidade
apaga os olhos.

No horizonte
o ritmo é azul,
as primeiras sílabas
caem do céu,
dentro de mim
espreita um poema
e nos meus dedos
pula-me o coração.

Uma lâmpada
acende-se nas trevas
e as mãos do mar
abraçam
o lençol de estrelas.

Deambulo
em passos perdidos
e as mágoas adormecem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário