Haja o que houver... Ana Fonseca da Luz




Sabes que vou estar sempre aqui… haja o que houver.
Mesmo que as tempestades se levantem e te roubem os sorrisos e te encham de mágoas, eu vou estar sempre aqui.
Sempre aqui estive, silenciosa, expectante, só tu não vias.
Alicerçámos as nossas vidas com cimentos diferentes, seguimos por estradas diferentes, umas vezes por caminhos estreitos, outras vezes, por alamedas floridas…
Somos duas estradas paralelas, que atravessam a vida como podem.
Desbravamos cenários de velhas peças de teatro. Mas, se virmos bem as coisas, as nossas vidas não passam de peças de teatro, onde todos os dias representamos, onde nos aplaudem quando agradamos ou nos vaiam quando saímos do padrão daquilo que querem que representemos.
E, todos os dias, as nossas personagens representam o melhor que podem. Vestem-se de cores vivas, tantas vezes de luto, e enfeitam-se de alegrias fingidas, porque o papel assim o exige.
A vida é uma comédia, um drama e às vezes apenas uma imitação da vida que gostaríamos de viver.
Mas, de qualquer maneira, é bom que saibas que, haja o que houver, eu estou aqui, para te aplaudir e para te pedir um “encore”, se assim for o caso, ou para chorar contigo.
Não, não te rias. Não estou a brincar! Nunca brinco com coisas sérias e a vida, minha amiga, é uma coisa séria, quer queiramos, quer não.
Também não me peças conselhos. Não tos sei dar…
Achas que, se soubesse realmente viver, não te ensinava?
Ai, como me dói a alma, hoje, por te ver assim, chorosa, perdida e tão profundamente infeliz.
Hoje, não sei se vais conseguir vestir o teu figurino e representar o teu papel. Hoje, não sei se vais suportar o peso da tua existência e percorrer a tua estrada, paralela à minha. Eu sei o que custa… Eu sei o que dói…
De qualquer maneira, haja o que houver…
Este balanço constante, esta vertigem que nos chama para o desconhecido que tanto nos atrai é quase uma doença. Uma doença de que ambas padecemos, uma doença que só pessoas como nós conhecem e os nossos espectadores nem suspeitam, nem imaginam o que nos custa, em certos dias, arrumar as ideias, as prioridades e sair para a rua, como se nada fosse, como se fôssemos tremendamente felizes!…
Salva-nos muitas vezes a maquilhagem…
O “blush” que nos ilumina, o rímel que nos acentua o olhar, o baton, para nos encher os sorrisos que temos de mostrar, nesta ou naquela cena.
E a alma?
E o coração?
E a tristeza?
Tudo escondido, tudo camuflado…
Só à noite, quando tiramos a máscara, porque estamos sozinhas e podemos finalmente desencarnar da personagem que nos foi imposta, só à noite voltamos a ser nós. Só à noite podemos finalmente, entre um afazer e outro sorrir, sonhar e pensar que um dia ainda vamos conseguir.
Sei que estás a ler isto agora e que sabes que é para ti…
E que essa lágrima marota, traiçoeira te aflora os olhos.
Deixa-a sair. Choramos juntas… O que achas da minha ideia?
Não seria a primeira vez e não será a última que choramos juntas, cada qual na sua estrada, sem nunca nos encontrarmos, a não ser no mundo dos sonhos que é tão nosso e que nos obriga a emergir todos os dias, radiantes e, no entanto, cheias de lágrimas.
Mas a peça tem de continuar.
Os espectadores compraram o bilhete e querem-nos ver representar bem!
Pronto, limpa a lágrima…
Sorri!
Desempenha o teu papel, o melhor que souberes.
A vida, minha amiga, é este teatro.
Não há nada a fazer…
De qualquer maneira, sabes que não estás sozinha, nunca estarás sozinha, porque, haja o que houver, eu estou aqui!

A. Luz

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