Uma luminescência mágica... Ana Fonseca


Uma luminescência mágica impregna o ar numa quase névoa a ser navegada pelos sentidos que afloram a pele.

É um apelo inaudível e gritante o que compele ao absorver da atmosfera circundante e o ser deixa-se expandir pelo ar errante.

Lentamente, sossega o respirar, tranquiliza o pulsar que lhe impregna o corpo de vida e faz-se pausa num mundo ausente de serenidade. Permite-se parar e acompanhar o botão ser flor a desabrochar, o ninho ser ovo em asas a esvoaçar, o ar ser luz que vibra e alimenta sem cessar, a vaga que irrompe ora serena ora acutilante e rasga o mar do olhar…

Como é belo poder contemplar!

A mística do momento é essa mesma, o poder saborear o instante como um néctar que aflora os lábios e pede para ser degustado com cuidado, com zelo, um braço que alcança outro mesmo na distância e o compele num eterno abraço, um sorriso que desponta num olhar e se faz gesto por entre uma multidão ofegante que se esqueceu que é bom parar e ainda melhor amar, nem que seja a pedra gasta que sem se queixar acomoda tantos passos por entre o seu estar, os dedos que se entrelaçam errantes na procura de um porto onde atracar, uma melodia que se entoa sibilina sem sair do lugar e que desvenda multiversos de um só existir em tanto lugar.

Como é tudo tão belo!!!

E o ser deixa-se ficar, adormecido na beleza latente que lhe impregna os passos quando deambula sonhador por entre os muros, quando sobe aos telhados e se lança nos céus num descolar gritante de harmonia, ébrio de vida, quando tronco se faz oxigénio e saboreia o instante secular que urge da seiva e ramificado por entre o leito que o acolhe desponta na pétala, na letra, no aconchego do caderno a quem deu vida…

E o ser recosta-se nas letras e deixa-se embalar pelo canto das palavras que magnânimo lança ao ar e deixa cair como sementes num qualquer regaço, num qualquer bater compassado num peito que não sendo de alabastro é cálice eterno e pulsa em incessante amar…



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