Na ausência...






Solta os seus passos no caminho, escuta o eco que o vento deles lhe traz… nela ainda habita um resquício de vontade, de querer, num ser que se abandona inocente à vida.
Para onde a guiarão, que caminhos percorrerá, que estradas se abrirão invisíveis às suas asas que se abrem de par em par? Não sabe.
Num gesto que grita o desalento que por vezes a corrói, agita os cabelos ao vento e vê desprenderem-se gotas de sangue, pétalas de suor dos trilhos percorridos… outros tempos ditados pela mestria do coração, seu eterno guia que nunca a poupa aos escolhos mas que a alimenta, lhe dá vida.
Decidida, pára, ergue os braços ao Sol, abraça o Mundo com um sorriso que lhe vem de dentro e liberta-se … decide sair do caminho, procurar a erva alta e deitar-se.
Já deitada, ri e decide fazer a figura do anjo na relva.
Uma joaninha vem brindá-la com o seu vôo e parece sorrir-lhe e ela retribui-lho no expandir de todos os seus contornos, ébrios de vida, plenos de sentido…
Sem perceber como, num expirar mais profundo, desprende-se e vê-se fora de si, ténue e definida luz, a contemplar o corpo que se encontra abraçado pela relva onde despontam lírios.
Já nada a prende, a não ser o ténue cordão de prata que a liga ao seu corpo repousado.
Agora, pode ser ela sem grilhões, sem temores, sem dúvidas, sem questões, agora voa e entregue às asas do coração procura no firmamento quem ouça a sua canção.
Talvez volte, um dia, talvez a encontres na paisagem do caminho.
Se a vires, diz-lhe que a sinto, que a amo, que a vivo neste corpo que ainda não a abandonou, que sabe o caminho…

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