No crepitar que transcende... Ana Fonseca


Na maciez do tapete, no aconchego das labaredas deixo que os meus olhos se entreguem ao crepitar e sinto o meu corpo bailar… espreguiço-me no chão que me acolhe e ofereço o corpo às chamas que me envolvem…

… ecos de um “Stand by me” inebriam-me e fazem sonhar-me-te aqui…

Há vozes inesquecíveis, intemporais, vozes que são como melodias nos nossos silêncios, nos nossos escutares, vozes que perpassam todos os ecos, que ecoam em todos os búzios irmanados no som do mar.

Assim a tua voz.

Nunca te ouvi cantar, mas cada sílaba por ti pronunciada é um hino que me deixa trémula, desperta, frágil na descoberta de me te ser, alerta…

E mesmo quando o teu canto afagar outros olhares, lá estará o meu escutar pronto a receber-te só porque te sinto, só porque te sou esteja onde estiver o nosso estar…

Quantas vezes me questiono sobre o que nos liga, quantas vezes duvido da emergência com que os meus sentidos por ti gritam, quantas vezes me sereno e me basta um olhar teu para tudo esquecer, tranquila… e se sinto a envolvência dos teus braços, perco-me na essência do que nos transborda e bebemos juntos do cálice que afagamos ao segundo… numa entrega vibrante e até ingénua num permanecer que se abraça mesmo na distância…

Desperta da letargia que me envolve, recrudesço de cuidados no avivar da chama que jamais se consome e afago com o olhar o crepitar que nos transcende e mergulho no agora, indiferente às estações que perpassam no céu de todas as auroras, pois o que é o Inverno senão um Verão em que tarda o calor do teu abraço?!

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