O Lobo Mau (e a princesa encantada)... Ana Fonseca da Luz


Parece-me mentira, como, com esta idade toda, (nem me atrevo a dizer o tamanho da minha idade) ainda gosto de histórias infantis.
As minhas histórias preferidas, quando eu era pequena, eram “A Carochinha” e “A Bela Adormecida”, talvez por serem as que a minha avó me contava com mais requinte de pormenores. Lembro-me que, sempre que me contava a da Carochinha, enfeitava a dita, com fitas de mil cores, antes de a pôr à janela, à procura de um noivo. Quem diz noivo, diz presa…
Sim, porque se analisarmos bem a história, somos forçados a concordar que a Carochinha, além de ser uma provocadora, porque, se o não fosse, não se punha naqueles propósitos à janela, era também uma “mulher” muito exigente. Não gostava do cão, porque falava muito alto, não gostava do boi, porque era muito grande e não gostava da formiga, porque era insignificante.
Resumindo: ficou-se pelo rato, que era bem parecido, não falava alto, logo não a incomodava, e devia ter alguns bens, ou então não teria organizado aquele casamento de estadão, com comida num grande caldeirão.
Em suma, as “Carochinhas” nunca dão ponto sem nó!
Já a história da “Bela adormecida”, tinha todos os ingredientes para ser um sucesso. Senão, vejamos:
A “Bela” era a mais bonita das redondezas, gostava de maçãs, logo não engordava…Esperem, parece-me que estou a misturar as histórias, porque quem gostava de maçãs era a Branca de Neve, que também era muito bonita e que, tal como a outra, só acordou com um maravilhoso beijo, do não menos maravilhoso Príncipe Encantado.
Qual é a mulher que não gosta de acordar com um beijo dum Príncipe Encantado?
Nenhuma, embora a maior parte das vezes, passem a vida a serem beijadas por sapos… É o destino !
Mas agora, e embora ainda recorde com prazer estas histórias da minha meninice, a história de que eu mais gosto, é a do Lobo Mau.
Não há dúvida, um ”lobo mau”, na nossa vida tantas vezes insípida e deslavada, apimenta logo a nossa existência.
E não me venham cá com moralismos, que não senhora, que os lobos maus nos desencaminham e que nos fazem perder o rumo, porque eu não acredito.
Não acredito, pronto!
Eu sei, eu sei que este tema dava pano para mangas e que, com certeza, daria lugar a uma discussão mais acesa. Mas desafio essas mentirosas, que dizem que não gostam de lobos maus, para lhes provar por A mais B que, pelo menos uma vez na vida, devemos ir na conversa desse tão belo animal e, ainda por cima e segundo dizem, em vias de extinção, que se chama “Lobo Mau”.
Não gostam da toilette do Capuchinho Vermelho? Eu também não. Troquem a saia rodada da dita cuja por uma saia justa pelo joelho, o capuchinho vermelho por uma camisola de lã angorá da mesma cor e os sapatos rasos por uns sapatos de salto alto e depois me dizem se não passamos a ser nós e o “lobo mau” e o dito cujo, o mais inocente dos cordeirinhos…
E depois há aquela conversa mole que só os lobos maus sabem ter e que nós mulheres tanto apreciamos. Eles não falam de contas a pagar, nem de futebol, nem do PIB e jamais se atreveriam a dizer que estamos a começar a ficar com rugas.
Os temas são só e apenas os que nos enaltecem e nos fazem acreditar que ainda estamos aí para as curvas, apesar de só Deus e nós sabermos os milagres que todos os dias temos de fazer antes de sair de casa e as maravilhas que um bom vestido faz, ao esconder aquilo que realmente já conheceu melhores dias…
Mas isso não interessa nada. A verdade é que os “Lobos Maus” nos mantêm com o ego lá em cima e isso é que faz toda a diferença.
Mas deixem-me que lhes conte a história de um lobo mau que conheci há pouco…
Não, não conto. Puxem por essa imaginação.
Já vos dei a cana, ensinei-vos a pescar, o resto fica por vossa conta e risco.
E agora, para finalizar, porque não me quero alargar com mais delongas, deixo-vos só um conselho, embora tenha dúvidas quanto à sua validade: não há nada mais agradável do que ouvir um lobo mau dizer-nos ao ouvido:
- Só agora percebo, por que é que a minha vida não fazia sentido. Faltavas-me tu!!
E pronto: é com estas conversas de embalar, que os lobos maus nos transformam em princesas encantadas…
Agora, amigas… roam-se de inveja!

P.S. Se sofrerem do coração, fiquem-se pelos cordeirinhos e esqueçam os lobos maus.

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