Um pedaço de mim... Francisco Valverde Arsénio


Um pedaço de mim
ficou entre o nascer e o pôr-do-sol,
como um bocado de musgo
que se agarra às rochas,
como se me olhasse por dentro,
como um feixe de luz
que entra
pela janela pequena do sótão.

Não vi
quem me arrancou a pele
mas um pássaro
levava uma flor no bico,
fechei os braços
para não saírem do sítio
e ouvi vozes na distância
de uma folha amarelecida.

Falta-me um pouco de nada,
talvez tenha ficado no telhado
por onde a manhã entrou.

Tenho os pulmões
cheios de ar para gritar
mas fico-me na síncope da dúvida…
quem levou aquele pedaço de mim?
Não sei se sou eu
ou outro virado do avesso,
faltam-me as lembranças
daquele primeiro dia.

Tenho as palmas das mãos
sujas de areia
e preciso olhar para trás,
apetece-me ver o mar
num piscar de olhos
e correr como os peixes
por entre os navios.

Por detrás do jardim
há uma janela,
e alguém segura
a minha alma nas mãos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário