ATÉ QUE EM OIÇA... Francisco Valverde Arsénio











Chamo por mim e não me ouço,
ainda tenho o corpo dormente
de me abraçar ao silêncio
por entre a sombra da árvore grande.

Chamo por mim por entre o côncavo
das minhas mãos tão vazias das tuas,
mãos desapossadas de tudo e de nada.

Chamo por mim como os sinos ecoam a rebate,
e as árvores não têm folhas
nem há frutos maduros suspensos nos ramos.

Calo-me para me ouvir melhor,
agarro a incerteza da tua voz
que me chega numa sinfonia de areias mudas.
O mar está silencioso,
não há aromas em cor de azul
nem nuances do cristal dos teus olhos.

A tarde declina por cima dos seixos,
o rio que transporto
arrasta os líquenes do leito,
e chamo-me… continuo a chamar por mim.


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