Dia 344... Joaquim Pessoa




Hás-de morrer de não me ver.
Hás-de morrer no meu olhar, quando
eu fechar os olhos cansados de reler meus versos,
em busca de outros versos diferentes,
igualmente diferentes,
ainda teus, tão teus, tão profundamente teus
que os amo
antes de os escrever,
antes até de pensar que me era possível
escrevê-los.
Hei-de morrer de não te ver. Apunhalado
por um vazio perfeito, o mais
significativo vazio, representado
na grande antologia dos vazios.
Morreremos ambos de lonjura
e solidão, Ceguinhos um
do outro. Habituados
à luz escura desta
ideia.

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