Felicidade...um estado de êxtase! Francisco Valverde Arsénio


Na montra do café estava um papel a dizer «café 0,60€». Desde que aumentaram o café para 0,65€ na minha zona, tenho evitado beber, considero um roubo e um abuso o valor pedido por 5 pingos de água suja. Mas aquele papel fez com que entrasse, me sentasse a uma mesa e espalhasse o caderno e o livro no tampo.

«Sabes lá o que é a felicidade». Esta frase saiu da boca duma jovem que estava sentada a uma mesa com um homem mais velho. Estavam na zona de fumadores um pouco distantes de mim e foi o que consegui entender da conversa entre o par, que tão depressa agarravam a mão um do outro como se separavam com ar de inimigos. Fiquei pensativo… se soubesse escrever bem, teria naquela frase um bom motivo para o mostrar, dar largas ao meu conhecimento, mas… será que eu sei o que é a felicidade? Talvez saiba porque a felicidade não se rege por uma fórmula unívoca.

Felicidade é saber viver cada momento e sentir as mais pequenas coisas da vida, mesmo aquelas que parecem nada valer, aquelas a que a maioria não presta atenção. Felicidade pode ser uma gota perdida numa pétala, um pássaro cantando no cimo duma árvore, uma tarde de sol, um passeio no meio da multidão ou um momento de silêncio. Pode ser tudo, pode ser nada, pode ser o pouco que podemos ter, pode ser viver as coisinhas pequenas que nos deparam, um olhar, o sabor leve de lábios ou o adeus quando projectamos o regresso. Felicidade é o calafrio que se sente, o arrepiar da pele que percorre as entranhas, uma mão pousada em outra mão. É o brilho que um par de olhos deixa marcado no outro, os segundos de intensidade dum abraço, a perpetuação do momento único em que os corpos se fundem.

Felicidade… cada um de nós pode arranjar mil e um motivos para a enaltecer, e é por isso que acreditamos que existe, para que cada história seja uma história dentro da história. Mas a felicidade também tem o seu antónimo, esse que confunde e mistura loucura com sanidade, é o momento em que se fala das lágrimas que rolam pelo rosto, das noites mal dormidas, dos fantasmas que nos assolam e povoam o pensamento. Neste estado, o coração sente indiferença e perde o encantamento almejado.

Do que falará o par da mesa da zona de fumadores? Será que apanhei a frase «sabes lá o que é a felicidade» no ar e desprovida de sentido? Talvez, mas foi o que me pareceu ouvir, talvez me apetecesse divagar sobre o assunto e arranjasse motivo para isso. Talvez eu quisesse dizer apenas que tive o meu momento de felicidade quando os teus lábios impregnaram a minha pele, quando ousaste ser em mim por um momento, quando disseste «amo-te».

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