A quietude do silêncio...

Falei com o silêncio mas ele não me ouviu. Tentei quase até à exaustão, depois compreendi… como poderia ouvir-me se era silêncio? Baixei os olhos e deixei voar o pensamento. Só então ele falou comigo. Só assim o silêncio fala connosco… se o soubermos encontrar. Que me disse? Não importa, para quê dizê-lo se era silêncio?
Um simples fechar de olhos, um simples gesto e tudo pode acontecer. A vida possui-me por inteiro, despoja-me das vestes e faz brilhar o cristalino dos olhos. Pode haver quietude, noite, partida ou chegada mas não consigo alhear-me de ti, não consigo afastar-me das tuas mãos, do teu colo momentâneo. Por vezes procuro um refúgio de ti, deixo-te partir e nem dás por mim, mas há sempre aquele beijo que marcou o nosso instante, um beijo breve mas tão intenso. É assim que o guardo, é assim que o sinto e vejo quando sorris.
Há um paradoxo em mim… gosto de sentir saudade. Gostar talvez seja exagero, diria antes uma necessidade intrínseca de reciprocidade de afectos que se multiplicam em cada chegada, da mesma maneira que se espera a primavera após um inverno rigoroso. Sinto-me bem quando me olhas num misto de curiosidade – que irá ele escrever desta vez – e ternura que transparece dos teus olhos, esses olhos que irradiam paz, medo, desejo e prudência, que têm a força e o brilho das estrelas, que entram em mim como um raio escavando um túnel nos meus sentidos, como se fossem pirilampos na noite escura ou o rasto dum cometa errante.
Estou agora aqui debaixo do céu acompanhado do amor que te tenho. Num qualquer rio deve haver um ramo duma árvore que lhe abraça o leito e afaga a superfície das águas na sibilina noite, haverá uma música tocada em mil notas que eterniza os nossos pensamentos cruzados, haverá um oásis no meio do deserto mais ardente.
Faz silêncio, faz frio e faz calor. Envergo as diáfanas mantas da ternura que reservo para estes momentos, em que a emoção toma conta da realidade. Mantenho por ti uma espécie de saudade permanente, como se cada passo fosse o início duma escalada que, não obstante os meus esforços, me mantém no sopé. Distraio os olhos no perambular do tempo, e esse tempo são pétalas renascidas do caule do meu corpo e os teus lábios os estames e pistilos que o teu coração me oferece.
Silêncio. É em silêncio que melhor se consegue descrever o tempo, a liberdade, a paixão e o amor. O silêncio é isento de ruído ainda que no seu interior possam rugir trovões como numa tempestade. O silêncio abre roturas na bruma, no negro da noite, na aurora e no vazio dos pensamentos.
Hoje decidi falar com o silêncio para te ouvir.

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