TENHO...O QUE NÃO TENHO... Francisco Valverde Arsénio












Tenho palavras presas
nas entranhas dum vulcão,
o sangue diluído na alma
e as raízes dilaceradas pela chuva.

Tenho o silêncio nu,
as tardes abraçadas
aos ventos mornos do outono,
um grito,
um tudo e um nada vazios
e horas que trespassam os dias.

Tenho um labirinto
de cor cinza na pele,
a marca duma papoila
na ponta dos dedos,
uma rua varrida de pedras
e uma canção sem vírgulas
nem notas musicais.

Tenho o estilhaço duma sombra
preso no cabelo,
um adeus lançado no fim da tarde,
um presente que se ausenta
e uma silhueta de ocasos em cada caso.

Tenho o mundo em cada passo,
uma mão cheia de vento,
um hiato da cor do destino,
uma solidão que me enlaça
e um barco ausente
carregado
de pedras que queimam.

Tenho palavras
que me deixam ver o céu por dentro.

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