Das cinzas, o fogo... Francisco Valverde Arsénio













Navegam batéis na luz trémula
dum pavio de azeite,
a lágrima que é rio volatiliza-se
e franqueia as cortinas da janela.

Na boca os lábios adormecem tristes
da promessa desprecavida
doutros lábios.

Tenho nos cabelos as cinzas de Pompeia,
rosas e prosas livres
e nalgumas sílabas os sentidos enleados.

Há horas que se extinguem
na madrugada viva,
na seiva reavivada
em que me perdi de mim.

Há a palavra gasta no riso inaugurado
na pressa da tonsura imperfeita.
Há um sono solto
que morre porque fala baixinho.

Há um chão gelado por entre as pernas
que se abrem aos passos
no caminho que se fez estrada.

Há um afago,
um mimo,
um desejo contido,
palavras que fiz voz,
semente,
vento
e amor.

Navegam lágrimas
em decantação de claves de sol
e eu nem sequer te pedi a cor do céu.

Um comentário:

  1. Gostei imenso desta parte «e eu nem sequer te pedi a cor do céu.» Enche todo um poema.Maravilhoso.

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